02 Abril 2019
"A vida de Jesus foi reconhecida como um amor transparente e pleno, e aqueles que o tinham visto viver e morrer daquela maneira, tiveram que acreditar na força do amor mais forte que da morte, a ponto de confessar que com sua vida ele realmente tinha lhes narrado que 'Deus é amor'", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por Avvenire, 31-03-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Milagre supremo ou a natureza do Filho de Deus são explicações verdadeiras, porém parciais da ressurreição. Não haveria manhã de Páscoa se a vida de Jesus não tivesse sido um dom total até o extremo. Máximo, o Confessor, grande teólogo bizantino do século VII, escreveu: "Aquele que conhece o mistério da ressurreição conhece o significado das coisas, conhece o fim para o qual Deus criou tudo desde o princípio". Com base nessa observação profunda, é útil fazer uma pergunta simples: por que Jesus ressuscitou da morte? Seria muito superficial responder que ele ressuscitou porque era o Filho de Deus, portanto isso estava na ordem normal das coisas. Resposta verdadeira, mas parcial.
Por outro lado, também não é suficiente ler a ressurreição como o milagre dos milagres: tal interpretação certamente contém uma verdade, porque a ressurreição é o inaudito nesta terra. Mas, na minha opinião, ainda é uma explicação insuficiente ... Aqui entra em jogo a reflexão propriamente humana que todo homem e toda mulher fazem desde sempre e em todas as culturas: viver é amar.
Todos os seres humanos percebem que a realidade indigna da morte por excelência é o amor. Quando, de fato, chegamos a dizer a alguém: "Eu te amo", isso equivale a afirmar: "Quero que você viva para sempre". Pode parecer banal repeti-lo e, no entanto, continua sendo verdade: a nossa vida só encontra sentido na experiência do amar e ser amados, e todos nós estamos à busca de um amor com os traços da eternidade. Pois bem, a graça de um livro como o Cântico dos Cânticos colocado no coração das Sagradas Escrituras consiste precisamente no fato de que nele se fala do início até o fim de amor, de amor humano. No final do Cântico, encontramos uma afirmação extraordinária. A amada diz ao amado: "Põe-me como selo sobre o teu coração / como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte". Aqui se chega a uma consciência presente em inúmeras culturas, que sempre perceberam um vínculo entre amor e morte.
A Bíblia, por seu lado, nos mostra que amor e morte são os dois inimigos por excelência; não a vida e a morte, mas o amor e a morte! A morte, que tudo devora, que também vence a vida, encontra no amor um inimigo capaz de lhe opor resistência, a ponto de derrotá-la. Em outras palavras, se é verdade que o Antigo Testamento não tem páginas claras e límpidas sobre a ressurreição dos mortos, no seu âmago está a consciência de que o amor pode combater a morte. E isso não é pouca coisa!
Tendo esse horizonte em mente, podemos voltar à nossa pergunta: por que Jesus ressuscitou da morte? Uma leitura inteligente dos Evangelhos e depois de todo o Novo Testamento leva à conclusão de que ele ressuscitou porque sua vida foi ágape, foi amor vivido pelos outros e por Deus ao extremo: "tendo amado os seus próprios que estavam no mundo, amou-os até o fim (eis télos)" (Jo 13, 1), para retomar o versículo joanino que abre a narrativa da Última Ceia, marcada pelo gesto do lava-pés.
Jesus foi ressuscitado por Deus em resposta à vida que ele viveu, ao seu modo de viver no amor até o extremo: poderíamos dizer que seu amor foi mais forte que a morte - aquele amor ensinado aos discípulos ao longo de toda a sua vida (com toda a sua vida!) e depois condensado no mandatum novum: "Amem-se uns aos outros como eu os amei" - para causar a decisão do Pai de chamá-lo de volta da morte para a vida plena. Em outras palavras, se Jesus foi amor, como poderia estar preso no túmulo? Esta é a questão por trás das palavras pronunciadas por Pedro no dia de Pentecostes: "Deus ressuscitou Jesus dos mortos, rompendo os laços da morte, pois era impossível que a morte o retivesse" (Atos 2:24). Como seria possível que o amor permanecesse como presa do submundo? De fato, a ressurreição de Jesus é o selo que Deus colocou sobre sua vida: ressuscitando-o dentre os mortos, Deus declarou que Jesus era verdadeiramente a sua história (exeghésato: Ioão 1,18), e mostrou que no amor vivido por aquele homem tinha sido dito todo o essencial para conhecê-lo.
É nessa perspectiva que também podemos entender o percurso histórico realizado pelos discípulos para alcançar a fé no Jesus ressuscitado e no Senhor. O que aconteceu no amanhecer da Páscoa? Algumas mulheres e depois alguns homens, discípulas e discípulos de Jesus, foram ao sepulcro e acharam-no vazio: enquanto ainda estavam perturbados com essa situação inusitada, tiveram um encontro na fé com o Ressuscitado, perto do sepulcro, na estrada entre Jerusalém e Emaús, às margens do lago Tiberíades ... E é significativo que Jesus não tenha aparecido para eles resplandecendo de luz, mas com traços muito humanos: um jardineiro, um viajante, um pescador. Mais ainda, manifestou-se na forma como ao longo de sua existência havia narrado a possibilidade do amor.
Por isso, Maria de Magdala, sentindo-se chamada pelo nome com amor, imediatamente responde: "Rabi, meu mestre!" os discípulos de Emaús reconhecem Jesus no partir do pão, isto é, no gesto que resume uma vida oferecida a todos; e o discípulo amado, que o reconhece presente na margem do lago de Tiberíades, clama a Pedro: "É o Senhor!" ...
Em resumo, a vida de Jesus foi reconhecida como um amor transparente e pleno, e aqueles que o tinham visto viver e morrer daquela maneira, tiveram que acreditar na força do amor mais forte que da morte, a ponto de confessar que com sua vida ele realmente tinha lhes narrado que "Deus é amor" (agápe: 1 Jo 4,8.16). Iluminados por essa consciência, os discípulos fizeram um caminho para trás, que os levou a lembrar, contar e finalmente colocar por escrito nos Evangelhos a vida de Jesus nas estradas da Galileia e da Judeia. Eles entenderam que Jesus havia narrado o amor de Deus com as suas palavras, com sua maneira de estar entre os outros, de encontrar os enfermos e os marginalizados, de perdoar a mulher adúltera, de aceitar o gesto de amor da pecadora, de chamar Judas de "amigo", justamente enquanto era preso por sua culpa... E depois de ter contado tal amor durante toda a sua vida - até dizer na cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" - poderia ter ficado presa da morte? Com sua vida e sua morte, Jesus mostrou que tinha um motivo para morrer e, portanto, uma razão para viver: o amor pelos outros, vivido cotidianamente e com simplicidade, gratuitamente e livremente, aquele amor que não pode morrer!
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O mistério do Ressuscitado, explicado pelo amor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU